Qual o significado da descoberta da Brasil? A exposição de José
Moura-George, arquiteto e pintor português, provoca diversos sentimentos, e
imaginamos através das estórias dele, o que ele não imaginou. "Terra à
vista!", gritaram os estrangeiros e aportaram onde não havia porto, e
talvez milhares de índios os esperavam,
armados. Ou não havia nada a não ser as terras de uma plaga sem dono cinza e
verde ou azul e verde. Mas as telas do artista dizem que havia mais cores,
aliás, uma explosão de cores e sensacões. O novo mundo estava ali, diante
deles, e os habitantes daqui continham na alma todos os elementos do futuro em
que vivemos. Foi um choque de culturas, e nós, eternos índios, também temos
nossas estórias geradas diante daquelas pessoas brancas descendo dos navios com
indumentárias pesadas, estórias que ainda não pintamos. Nossas indiazinhas
correram de estupradores insaciáveis, eles nos sorriram, arrotaram em nossas
caras, o que queriam, afinal? (Ou foi tudo o contrário.) Claro que se tem um pouco dessas visões
portuguesas, afinal todos temos um pouco do sangue deles. Mas vivemos no
Brasil, somos índios ainda. E por mais que tenham nos implantando chips ou
corrigido nossos modos, ainda se tem a impressao de que somos impotentes. Quem
sabe não queremos ser portugueses ainda hoje, e não consigamos? Descobriram
aqui, sim, mas a distância entre nos é continua. Imaginar algo de mais é mesmo necessário? Exposição de Pintura: Consulado Geral de Portugal em São Paulo, 11 de abril.